Resenha “Vidas Barradas”: o documentário sobre Brumadinho que concorreu à premiação internacional

Publicado em: 28 de julho de 2021


(foto: Clara Digital/Divulgação)

O documentário “Vidas barradas”, lançado em 2019, foi produzido pela Clara Digital e pela Comissão Internacional de Juristas Independentes, sem fins lucrativos. Com o objetivo de contar um pouco da história da tragédia, o documentário, que tem duração de 80 minutos e está disponível no no Youtube, apresenta depoimentos de familiares, profissionais e sobreviventes do dia 25 de Janeiro de 2019, juntamente de reuniões e entrevistas sobre os processos da luta pelos direitos da população com a Mineradora Vale. 

O documentário começa com cenas do dia do ocorrido e depoimentos emocionantes de familiares dos atingidos e sobreviventes da tragédia. A parte inicial foca na dor de quem perdeu um ente querido, mostrando a busca incansável dos bombeiros e voluntários nas buscas e o quanto todo esse processo afetou o psicológico dos moradores. 

Em seguida, com cenas de Brumadinho seis meses após a tragédia, apresenta-se uma reunião feita com juristas para analisar os danos ambientais, físicos e emocionais aos moradores e o crime cometido pela Vale. 

O documentário é capaz de demonstrar, de forma particular, que as 270 vidas perdidas não são apenas um número, uma estatística do crime. Cada vida importava, cada um tinha uma história, cada um tinha alguém para encontrar quando voltasse para casa. 

“Eles não tiveram chance de correr, as sirenes estavam desligadas, meu filho foi assassinado” é o depoimento de uma mãe durante a reunião internacional. Andressa Rodrigues, mãe de Bruno Rodrigues, funcionário da mineradora há três anos. 

Durante os depoimentos dos familiares é difícil não se emocionar com a dor em cada palavra dita. Impactos psicológicos irreversíveis, dor e lama são o que sobraram da tragédia. 

O documentário também conta sobre a tribo Pataxós que usava o rio para tomar banho, se alimentar, fazer seus rituais de comemoração; as crianças usavam o rio Paraopeba para brincar, o rio era a vida deles, mas agora o rio está morto. 

Os peixes levados pela lama foram enterrados pela tribo quando chegaram mortos. Eles perguntam ao cacique quando o rio será curado, se a chuva irá lavar o rio algum dia. 

Quem dará essa resposta a eles? 

Mais ao final, o documentário, que é extremamente completo, emocionante e informativo, traz mais informações sobre as investigações a respeito do ocorrido. 

Segundo especialistas, a Vale já tinha quantificado os danos antes mesmo da tragédia ocorrer, de forma a evitar que as consequências chegassem até a parte superior. Ela sabia. 

Reuniões pessoais e sem anotações foram feitas para que não existissem registros. 

Pessoas na rota de fuga morreram, pois nem o plano de fuga era compatível. 

Crianças desenham os corpos no helicóptero.

Atingidos pedem justiça. 

Culpada. 

Os depoimentos de familiares voltam a aparecer, demonstrando a dor dos mesmos. O documentário finaliza com informações sobre o crime e com os nomes de cada vítima da tragédia ao som do Hino Nacional e imagens de uma apresentação artística. 

Forte e necessário, “Vidas barradas” foi muito bem construído. Indicado a prêmio na Argentina, o trabalho também foi finalista do prêmio Guarnicê, um dos mais antigos e prestigiados do Brasil, e recebeu o título de melhor filme de 2020 na categoria voto popular.

Caso você tenha interesse em entender mais sobre o ocorrido assista ao documentário pelo link https://www.youtube.com/watch?v=XUBwyUJfj-U e se emocione com as histórias e vivências de quem presenciou o maior desastre ambiental do país.