Resenha do documentário “O povo Constrói”

Publicado em: 3 de maio de 2022


Maíra Gondim Almeida1 e Karolina Santos Hugo2 

O documentário “O povo constrói”, produzido pela Rupestre Filmes e realizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, em 2020, visa retratar os desdobramentos do rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, de propriedade da Samarco Mineração S.A., VALE S.A. e BHP Billiton, situada no município de Mariana em Minas Gerais, em novembro de 2015. O rompimento atingiu de forma direta os povoados de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, além de afetar diversos municípios à margem do Rio Doce e do litoral do Espírito Santo, sendo considerado o maior desastre ambiental do Brasil, com cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos despejados no ambiente. 

O alerta, que dá origem ao próprio nome do documentário, parte justamente do descaso das empresas responsáveis pelas reconstruções das moradias devastadas com o rompimento. 

Nessa perspectiva, o mote “A Vale destrói, O povo constrói” repercute na união de voluntários para a reconstrução da primeira casa, mostrando que é possível atitudes propositivas em prol do bem comum. 

Para demonstrar a importância da moradia no contexto social, a narrativa do documentário se desenrola a partir de uma série de conceituações sobre o que é casa para cada um dos atingidos. 

Nesse contexto, o documentário denuncia o caráter criminal do rompimento da barragem de Fundão, considerado, pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos – CNDH, um crime contra a humanidade que, além de causar 19 mortes, representou danos socioambientais incalculáveis e irreparáveis.

Justiça e reparação são palavras utópicas para os atingidos, atingidas e para a sociedade civil em geral, e a revitimização é uma constante. Mesmo após cinco anos de rompimento, cerca de 430 famílias continuam sem lar. O reassentamento ainda é incerto. 

A construção da primeira casa simboliza a denúncia de que mesmo após anos do rompimento, a Vale ainda permanece inerte na reconstrução de moradias para famílias atingidas. Representa que a mobilização, luta e solidariedade do povo é capaz de promover transformações efetivas. 

O “crime” se perpetua no tempo e, dia após dia, a recorrência do trauma das pessoas atingidas agrava-se. O documentário, nesse sentido, através da narrativa forte, e das cenas cotidianas, retrata problemas reais do processo de reparação, demonstrando o descaso das empresas responsáveis e a vulnerabilidade dos atingidos. 

Ficha técnica: 

Título O povo constrói 
Ano da produção 2020 
Direção Rupestre Filmes 
Produção Pedro Faria, Rurian, Maíra Gomes 
País de origem Brasil 
Gênero Documentário 
Duração 13m9s 
Site oficial mab.org.br 
Disponibilização https://www.youtube.com/watch?v=dwYMSVqdLyA. 

Maíra Gondim é Extensionista de Pós-graduação no Projeto Paraopeba – Coordenação e Acompanhamento Metodológico e Finalístico (CAMF). Mestranda no programa de pós-graduação em direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Advogada. gondimmaira@gmail.com.

Karolina Hugo é Técnica de campo no Projeto Paraopeba – Coordenação e Acompanhamento Metodológico e Finalístico (CAMF). Cientista Social e especialista em Desenvolvimento de Territórios com Mineração. karolinahugo@pucminas.br.